quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Um dia de um advogado de família


Hoje foi mais um dia de trabalho, mais um dia para lutar pelo bem mais importante que há em uma pessoa, a dignidade. Hoje sai assim, do jeito da foto. O tema de hoje foi Direito de Família.

As causas de Direito de Família vão muito além das leis civis e das decisões dos tribunais. Cuidam de bens imateriais, de sentimentos, muitas vezes de magoas guardadas durante anos. Um advogado que defende uma causa de família também deve ser um pouco psicólogo e tentar propor soluções, que não são jurídicas.

Uma ação de divórcio não é só a declaração do fim do casamento, é o fim de uma relação de amor (ás vezes de ódio) que deságua, por acaso, no Poder Judiciário. Uma ação de pensão alimentícia não é só uma forma do marido ou da mulher arcar com despesas de quem necessita, é também, ás vezes, uma vingança do cônjuge, que na sua cabeça imagina: vou “arrancar” tudo dessa pessoa.

Ao lado de cada pessoa há um advogado, ou um defensor público, que aparenta ser imparcial. Mas não existe imparcialidade nas relações humanas, todo ser humano tem crenças, valores. Imaginem um advogado criminalista que advoga para um assassino. De que lado ele está? É difícil de saber.

Do outro lado, está o Poder Judiciário, não raro, representado por um juiz desinteressado pelas causas das pessoas. Apenas disposto a cumprir o seu horário, sem preocupação com as conseqüências da sua decisão.

Hoje, por exemplo, o Juiz estava visivelmente desinteressado pela causa. Ele admitiu, sem qualquer remorso, que não conhecia o processo, e que era de uma Vara Penal. Preocupante!

Ele queria resolver o problema o mais rápido possível, proferindo inclusive sentença (decisão final). Queria mudar o rito da ação (procedimento), para um mais rápido, em total respeito com a lei. Eu disse que não podia, e ele com uma risada de vergonha, por sua ignorância, concordou que não podia.  
Mesmo o Juiz querendo forçar uma sentença, pedi cautela para a minha cliente, e disse que era preciso juntar mais provas, para que ela não saísse prejudicada.

Aquele Juiz, se me permito criticá-lo (e ele não permitirá, mas criticarei assim mesmo), até hoje não aprendeu que uma sentença rápida não é sinônima de uma boa sentença. As ações judiciais precisam “amadurecer”, para que seja dada a melhor decisão possível ao caso apresentado na Justiça, especialmente quando estamos diante de uma ação envolvendo menores. O juiz não julga apenas um processo, ele decide o futuro da vida das pessoas. Como seria bom se todo juiz compreendesse isso!  


E assim termina o dia de um advogado de família, que tentou durante todo o dia resolver um problema jurídico, que na verdade é um problema de família. No final do dia, se nós advogados refletirmos, não defendemos apenas o direito do nosso cliente, mas sim, administramos problemas, sempre fazendo o nosso melhor, para ao final, dormirmos tranquilos, para nos preparamos para no outro dia intermediar outro conflito, que por acaso virou jurídico.     

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